segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Historinha

Ela ia pela avenida da cidade grande, olhando as vitrines, deslumbrada, amando tudo aquilo que via e pensando no agora. Até o momento em que ela parou diante de uma vitrine. Era a vitrine de uma loja de móveis. Natália postou-se em frente à loja e começou a projetar a sua futura casa ali mesmo. Até o momento em que um homem sentou-se no seu futuro sofá e (que ousadia!) colocou o pé sobre o estofamento. Natália bateu na vitrine e mandou-o baixar o pé pois aquele sofá seria dela. Ele responde: "Sou o arquiteto da loja." Grande coisa", pensa ela. Mas... através dessa vitrine de móveis e decoração começa a surgir uma amizade. Todos os dias Natália passava por aquele caminho e, o que um dia começou com uma repreensão por parte da guria, transformou-se numa grande amizade repleta de confissões. Em seguida o arquiteto ofereceu-se pra projetar a casa de Natália. Ela aceitou. Tudo ia bem até que ela cansou-se da amizade através da vitrine; queria mais. O arquiteto saiu de sua vitrine, que mais funcionava como uma redoma de vidro, e levou Natália pela avenida. No caminho encontram Rodrigo que andava triste há anos. O arquiteto e ela entram em um lugar chamado Cana Caiana onde está tocando Fé cega, faca amolada do Gil. Bêbados caídos preenchem o lugar e Natália pede pra ir ao banheiro. Na volta, o arquiteto leva a guria pro lugar preferido dele: o lugar de onde ele a via de forma protegida, sem riscos. A vitrine da loja. Natália foi até lá. E deu-se conta de que jamais conseguiria viver naquele lugar. Despediu-se de seu amigo arquiteto e, no mesmo instante, Rodrigo passou. O arquiteto perguntou por que ele havia parado de fazer o que fazia de melhor: contos infantis. Rodrigo respondeu que depois que sua esposa se foi ele virara judeu e também passara a viver em uma vitrine, porém, bem mais escura que a do arquiteto. Natália seguiu andando pela avenida que era só sua até que acordou ao som que vinha da cozinha. Era a sua mãe catando "Sozinho", do Caetano. E quando ela acordou, viu que tinha lágrimas nos olhos. Eram lágrimas de saudade.

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