Bom, dia dos pais então. E sempre fico em dúvida em datas como essa. Onde passar o dia dos pais e das mães? Pois aqui em casa, meus pais se dividem e cada um vai visitar a sua família. Bom, como o dia é dos pais, minha mãe acaba ficando em casa com o pai dela e o meu irmão. Decido ir pra casa dos gringos, afinal meu pai estaria lá com o meu avô e aproveitaria pra me despedir do meu tio, que vai embora amanhã. Acordo quase meio-dia e meus avós já me ligam perguntando se eu não iria almoçar com eles. Me arrumo correndo e chego com meia hora de atraso.
Fico surpresa quando chego porque é a primeira vez que vejo pratos sobrando na mesa em vez de faltando. A trilha sonora não contribuiu muito: estava tocando axé e depois o pai botou o cd que dei pra ele de presente. Zezé di Camargo e Luciano!, bah, depois da terceira música começaram as manifestações pra mudar a trilha.
Bem, como cheguei atrasada sou a última a terminar de comer. De repente a Maristela entra na cozinha e pega o esmalte de unha branco dizendo que vai arrumar o risco do meu carro. Aí é que me dei conta que estavam todos lá olhando o risco. Ah, um risco de uns 2cm, nem merece toda a atenção que foi dispensada, mas tudo bem... deixa eles. Então era a Tela com o esmalte, a Odete com uma lata de cera pra carro, o tio com uma flanela. Parecia uma comitiva de extermínio:
- E aí, Tela? Arrumou o risco?
- Não, como eu to meio tchuca por causa do vinho acabei piorando!!!!
- Ah tá... não, só pra saber mesmo.
- É. Teu pai tá lá tentando consertar!
- Até imagino o que deve tá se passando...
Depois da tentativa frustrada de consertar o risco do carro, o tio começa a tocar Raul:
- Bah, tio. Não sabia que tu gostava de Raul.
- Aham, gosto muito desse maluco. Eu sempre ia nos shows que ele fazia em Belém.
- Shows do Raul em Belém???
- É, isso mesmo.
- Mas tio, tu não foi morar em Belém só em 94?
- Sim, antes eu morava em Curitiba, lembra?
- Sim, sim, lembro. Mas como é que tu poderia ir nos shows do Raul em Belém a partir de 94, se o cara morreu em 89????
- Alcides, seu burro!!! Tu ia era nos covers do Raul!!!!! (essa era a Maristela, óbvio..)
- Ah, dá tudo no mesmo... os caras eram a cara do Raul e cantavam bem parecido.
Depois do Raul, tomei conta do som e botei Beatles na roda. O povo se empolgou e alguns começaram a dançar. Chega a vó e reconhece o som:
- Ah, isso aí é aquele grupo lá que teve o cara que morreu com um tiro?
- É, vó. São os Beatles e o cara que foi assassinado era o John Lenon.
- Isso!! Beatles. Sempre gostei deles.
- É. Eles são muito bons mesmo.
- Como isso é moderno, né?
Ela tava falando do notebook onde estávamos vendo os clipes da banda, a Tela que pega a conversa no meio, diz:
- Que moderno o quê, mãe!!!! Beatles é do tempo do EPA, mais velho que eu!!!!
- Hummmmm... olha... estávamos falando do notebook, não da banda.
- Ahhhh tá... pensei que falavam dos beatles.
Dessa vez não teve música italiana, não teve o vô cantando em dialeto, nada disso. E acabei percebendo que é justamente isso que gosto mais nos almoços de família. Pouco depois chegaram meus primos com minha tia. Converso muito com a minha prima Rafaela e em seguida já é hora do café. Pouco depois me despeço de todos, principalmente do tio, que estará indo embora amanhã de manhã. E sei que meu avô fica muito triste nessa hora pois ele sempre acha que será a última vez que verá o primogênito. E insiste pra que na próxima vez ele traga o resto da família junto.
Quando vou dar tchau pro vô, ele diz de novo:
- Volta aqui semana que vem, Carôl! Quero muito que tu venha aqui. Gosto muito quando tu está aqui por perto.
Novo nó na garganta e mais uma vez sinto medo. Estou fazendo aquilo que ele me pede, mas mesmo assim temo pelo dia que virá pra todos. Afasto esses pensamentos porque a cozinha é invadida por: Volare, ôô, cantare... Tá, não é música italiana, eu sei. Mas num dia que não tocou La bella polenta uma vezinha sequer, Volare já tá de bom tamanho!!!
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Um comentário:
Adoro esses teus posts!!!
Beijos.
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